Amélie Gabrielle Boudet 
(23/11/1795-21/1/1883)

 

           
            Conhecida em sua época como a Madame Rivail,
esposa de Allan Kardec (Hypolite Leon Denizard Rivail) nasceu em Thiais, Sena, em 23 de Novembro de 1795. Filha de Julien-Louis Boudet, proprietário e antigo tabelião, e de Julie-Louis Seat de Lacombe.

            Após cursar o colégio primário, mudou-se com a família para Paris, continuando seus estudos na Escola Normal, onde diplomou-se professora de primeira classe. Professora de Letras e Belas Artes, culta e inteligente, demonstrando muita vivacidade e interesse pelos estudos desde a infância, foi autora de três obras: “Contos Primaveris”, 1825, “Noções de Desenho”, 1826, “O Essencial em Belas Artes”, de 1828.

            Em 6 de Fevereiro de 1832 casou-se com Allan Kardec. Nove anos mais jovem que Amélie, Kardec em momento algum preocupou-se com essa diferença, que em Amélie passava desapercebida, tal sua jovialidade física e espiritual. Associando-se ao esposo, Amélie dedicou-se também a apoia-lo no trabalho desenvolvido no Instituto Técnico fundado por Kardec logo após concluir seus estudos com Pestalozzi, em Iverdum. É importante observarmos que foi somente em 1833 que instituiu-se na França o ensino primário, por força da Lei Guizot. No ano de 1835, Amélie e Kardec, diante de sérias dificuldades, são obrigados a encerrar as actividades do Instituto Técnico. Enquanto Kardec trabalhava como contador para empresas comerciais, Amélie dedicava-se, durante o dia, preparando os cursos gratuitos que passaram a ministrar - de 1835 a 1840 - na própria residência, por falta de recursos para implantá-los em outro local. Apoiando Kardec em seus empreendimentos, Amélie colaborou para que sua obra pedagógica ganhasse volume e qualidade, sendo adoptada pela própria Universidade da França, reproduzindo-se em dezenas de edições. Com esse trabalho, foi possível ao casal alcançar uma posição financeira satisfatória, dando respaldo a Kardec para iniciar, em 1855, sua pesquisa sobre os fenómenos sobrenaturais das mesas girantes, que transformou-se na época, em verdadeira celeuma continental.

            Após o lançamento de “O Livro dos Espíritos”, em 18 de Abril de 1857, Kardec fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sediada em sua própria residência.

            Envolvido em tramas de ódio e calúnia, Kardec a todos os obstáculos enfrentou, sempre contando com o apoio de Amélie, compreensiva e meiga para com ele, certa da imensa grandeza e responsabilidade que representava o trabalho de Kardec.  

            No dia 3l de Março de 1869, quando Kardec aos 64 anos partia para o mundo espiritual, Amélie foi capaz de manter a serenidade e a dignidade que se espelharam em sua face. Diante de uma multidão de mais de mil pessoas, no dia dos funerais de Allan Kardec, manteve-se serenamente contemplativa, observando com respeito e admiração as palavras daqueles que se despediam - segundo Camille Flamarion - do “bom senso encarnado”. Comparecendo a todas as reuniões para as quais foi convidada, após o desencarne de Kardec, Amélie continuou presidindo a belíssima sessão realizada anualmente no Dia dos Mortos, durante a qual vários oradores transmitiam ensinamentos sobre a desencarnação e a vida no mundo espiritual.

            Tomando para si os encargos do esposo desencarnado, empenhou-se junto aos fiéis discípulos de Kardec para criar - segundo os planos do Codificador - a “Sociedade Anónima do Espiritismo”, entidade que levou adiante a divulgação doutrinária, a administração da Revista Espírita e da livraria. Em 1871, P. G. Leymarie - médium e colaborador incansável - assumiu essas tarefas, diante da necessidade de repouso que a idade avançada exigia de Amélie. Em 18 de Outubro de 1873, a razão social da entidade é alterada para “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, atendendo sugestões daqueles que entendiam que assim caracterizou-se melhor o objectivo proposto inicialmente.

            Até o final de sua vida Amélie atendia em particular aqueles que recorriam a ela em busca de uma palavra de consolo e de esclarecimento. Em 21 de Janeiro de 1883, às cinco horas da madrugada, ainda lúcida e amável aos 87 anos de idade, desencarnou Amélie, retornando ao mundo espiritual.

            Sem contar com herdeiros directos, Amélie e Kardec não tiveram filhos, os bens do casal foram destinados, em testamento, para a “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”. Não obstante o empenho de uma parente, e de seus filhos, no sentido de anular sua vontade, nada conseguiram, em virtude da decisão da justiça, que considerou soberana a decisão de Amélie, destinando para a entidade o património acumulado nessa existência.

            No dia de seu sepultamento, no cemitério de Père-Lachaise, a 12 km. de sua residência, durante cerimónia simples e despojada, Leymarie falou de improviso, lembrando o grande valor de Amélie, afirmando que a publicação de “O Livro dos Espíritos” e da “Revista Espírita” se deveu, em grande parte ao seu esforço pessoal, insistência e perseverança. É certo que o encontro de Amélie com Allan Kardec deveu-se a compromisso assumido na espiritualidade, em função de uma missão grandiosa que caberia aos dois empreender. Esse encontro de almas foi a aliança abençoada que reforçou em ambos a disposição e a fé para sobrepujarem inúmeros obstáculos, servindo para a posteridade de exemplo de firmeza e determinação.


Bibliografia: Grandes espíritas do Brasil, Zeus Wantuil O Livro dos Espíritos e sua tradição histórica e lendária, Canuto de Abreu.

 

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