Henrique de Sagres

Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, o Infante D.
Henrique terá nascido na cidade do Porto, em 1394. Com os irmãos, formou uma
das mais esclarecidas proles da história portuguesa, celebrada na literatura
romântica com o epíteto de Ínclita Geração. A aura de que gozou até ao
século XIX como principal obreiro do impulso decisivo dado às navegações
atlânticas, e que teve em torno da questão da sua vera efígie, supostamente
incluída nos Painéis de São Vicente, um dos seus pontos culminantes, tem
vindo no entanto a ser reavaliada.
A primeira grande empresa do infante foi a participação na
conquista de Ceuta, em 1415, onde foi armado cavaleiro. Feito duque de Viseu
nesse mesmo ano, a casa senhorial de D. Henrique tornou-se, em poucos anos,
uma das mais significativas da sua época, consolidada, em 1418, com a
administração da Ordem de Cristo. Foi um inegável desafogo económico que
levou o infante a organizar uma armada de corso, primeiro, e, mais tarde, a
exploração do Atlântico: de facto, navios ao seu serviço chegaram pela
primeira vez à Madeira (1419), aos Açores (1427) e às costas norte
africanas, dobrando, em 1434, o Cabo Bojador, e vencendo deste modo os medos
ancestrais relacionados com aquelas paragens longínquas. Após um breve
período de interregno, marcado pela funesta expedição a Tânger, onde perdeu
a vida seu irmão, o infante D. Fernando, as viagens de exploração retomaram,
em 1441, o seu ritmo inicial, atingindo-se a Guiné e o arquipélago de Cabo
Verde.
Animado certamente por um espírito militante e voluntarioso
de missionação, o infante D. Henrique buscava também o alargamento dos seus
proventos e de novos mercados, uma estratégia que tanto agradava à pequena
nobreza senhorial como à burguesia emergente. Os seus interesses
científicos, muito discutidos, não foram meramente instrumentais, tendo
mesmo patrocinado a introdução de uma cátedra de Astronomia na Universidade
de Lisboa e diversa produção cartográfica de apoio às navegações, embora não
com o espírito sistemático que lhe atribuiu a tradição. Em Sagres, onde se
recolhia regularmente e onde foi escrito o seu derradeiro testamento veio a
morrer a 13 de Novembro de 1460.