O Aborto
1 – Todas as religiões condenam o
aborto. E a Doutrina Espírita?
O Espiritismo também o situa como crime.
Vai mais longe: demonstra as consequências do aborto, sempre funestas,
envolvendo compromissos cármicos para a gestante. E também para aqueles que o
estimulam ou favorecem – seus pais, o pai da criança, amigos inconsequentes…
Comprometem-se, igualmente, médicos e parteiras que o executam.
2 – O movimento feminista, que se bate
pelo direito ao aborto, proclama que a mulher é dona de seu corpo e deve ter o
direito de decidir se quer asilar um filho em seu seio…
Se levarmos esse raciocínio às últimas
consequências deveremos admitir o infanticídio, racionalizando que a mulher
tem o direito de decidir sobre um ser que gerou e pôs no mundo. Ninguém
contesta que isso seria um absurdo, um crime inominável. E por que haveria de
ser diferente, enquanto o filho ainda mora em seu ventre?
3 – Em nenhuma circunstância pode-se
admitir o aborto?
Como já comentamos, na questão 359, de O
Livro dos Espíritos, os mentores que orientavam Kardec advertem que só é
admissível o aborto induzido quando há grave risco de vida para a gestante.
Oportuno acrescentar: com a evolução da Medicina, dificilmente se configura,
hoje, uma situação dessa natureza.
4 – O que acontece com o Espírito
reencarnante, no aborto?
Como não se completou a reencarnação,
tenderá a reassumir sua personalidade, o que era antes de iniciar o mergulho na
carne. O Espírito menos desenvolvido mentalmente pode situar-se,
transitoriamente, como um recém-nascido no mundo espiritual, entregue aos
cuidados de familiares desencarnados ou instituições especializadas.
5 – Há mulheres que caem em depressão,
após praticarem o aborto. Tem algo a ver com a influência do reencarnante?
Tratando-se de um ato que contraria as leis
divinas, a gestante que praticou o aborto experimentará conflitos íntimos
indesejáveis, nas sanções da própria consciência. Pode, também, sofrer
represálias por parte do reencarnante, quando este venha a se revoltar com o
fato de ter sido rejeitado e expulso.
6 – Quando ocorre o aborto espontâneo,
podemos debitá-lo a um problema cármico, envolvendo o filho e a mãe?
Nada acontece por acaso. Pode ser a consequência
de uma recusa à maternidade no pretérito, envolvendo, não raro, o aborto
criminoso. Quanto ao filho, ele pode estar comprometido com o mesmo crime ou com
o desvario do suicídio, colhendo agora a frustração do anseio de reencarnar,
com o que aprenderá a valorizar a vida.
7 – E quando a mulher pratica o aborto,
por recusar-se à maternidade? Sendo algo de sua iniciativa e não um problema cármico,
como situar a ocorrência para o Espírito que reencarnaria como seu filho?
Se tiver um mínimo de esclarecimento, a
encarará como um acidente de percurso, determinado pela imprudência daquela
que deveria recebê-lo. Será uma experiência a mais, envolvendo frustrações
próprias da Terra. Elas nos ajudam a amadurecer. Ao longo de múltiplas existências,
conscientilisam-nos de nossas responsabilidades e deveres.
8 – Se o Espírito tem compromissos com
seus futuros pais e a necessidade de reencarnar, continuará tentando?
Provavelmente, com a colaboração de
mentores espirituais que buscarão ajudá-lo a superar a resistência do casal.
Não é difícil, por isso, que em sucessivos abortos criminosos encontremos o
mesmo Espírito intentando retornar à carne e sendo rejeitado.
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Após a fecundação
do óvulo pelo espermatozóide o Espírito reencarnante é ligado ao embrião,
constituindo um ser humano que habitará ventre materno por nove meses,
protegido em sua fragilidade até que possa enfrentar o mundo exterior. O aborto
situa-se, assim, como uma desencarnação.
Se natural, quando
o organismo materno não consegue sustentar o desenvolvimento da criança,
configura uma provação relacionada com infracções às leis divinas, tanto
para os genitores, que experimentam a frustração do anseio de paternidade
(acresçam-se na mulher os sofrimentos e incómodos decorrentes da interrupção
da gravidez), quanto para o reencarnante, que vê malogrado seu anseio de
retorno à carne.
Já o aborto
criminoso configura um crime hediondo, nem sempre passível de punição pela
justiça humana (em alguns países a legislação faculta à mulher o direito de
arrancar o filho de suas entranhas, matando-o), mas inexoravelmente sujeito às
sanções da Justiça Divina, a atingir não apenas a gestante, mas também os
que directa ou indirectamente envolvem-se com ele (familiares que o sugerem e
profissionais que o executam).
A mulher que
assassina o filho indefeso na intimidade de si mesma, sob a alegação de que é
dona de seu corpo, usa um sofisma materialista. Nosso corpo é um empréstimo de
Deus para a jornada humana. Muito mais que direitos temos deveres vinculados ao
seu uso. O primeiro é o de preservá-lo, utilizando-o disciplinadamente, com
consciência de suas necessidades. O segundo é o de respeitar a vida gerada
dentro dele, em obediência aos desígnios divinos, porquanto ao Criador compete
decidir sobre os destinos da criatura.
A literatura espírita
é pródiga em exemplos sobre as consequências funestas do aborto delituoso,
que provoca na mulher graves desajustes perespirituais, a reflectirem-se no
corpo físico, na existência actual ou futura, na forma de câncer,
esterilidade, infecções renitentes, frigidez...
Problemas dessa
natureza, frequentes na actualidade, demonstram com propriedade como está
disseminada essa prática criminosa. Muitas mulheres chegam ao cúmulo de usar
habitualmente substâncias químicas abortivas sempre que ocorre atraso
menstrual, sem cogitar se estão grávidas. Semeiam aflições que fatalmente
colherão...
No aborto natural
o Espírito retorna à Espiritualidade sem maiores problemas. Bem ténues são
os laços que o prendem ao corpo, não apenas por se tratar de início do
processo reencarnatório, mas também em face do mal determinante do desencarne,
que o situa como paciente terminal.
Consumada a
desencarnação, o Espírito poderá reassumir sua personalidade anterior,
voltando ao que era, com acréscimo da breve experiência. Se não detiver
suficiente maturidade mental para isso, permanecerá na Espiritualidade como um
recém-nascido, à espera do concurso do tempo, que o habite a retomar a consciência
de si mesmo, ou preparando-se para novo mergulho na carne.
No aborto
criminoso a situação é mais complexa. O Espírito sofre o trauma provocado
pela morte violenta, embora amenizado pelo fato de não estar comprometido com
os enganos do mundo. Tratando-se de algo não programado, fruto da
irresponsabilidade dos pais, sua frustração será maior.
A readaptação
será semelhante à do Espírito vitimado pelo aborto natural. Considere-se,
entretanto, que, se moralmente imaturo, sua expulsão poderá provocar nele
acirrado rancor contra os pais, transformando-o em perseguidor implacável
daqueles que recusaram conceder-lhe a oportunidade do recomeço.
Muitos males que
afligem a mulher, após o crime do aborto, prolongando-se indefinidamente, não
obstante os recursos da Medicina, nascem dessa influência.
Richard Simonetti, do livro: Quem tem medo da morte?