Eutanásia
(André Luiz)
Felizes da Terra! Quando passardes ao pé
dos leitos de quantos atravessam prolongada agonia, afastai do pensamento a
ideia de lhes acelerardes a morte!...
Ladeando esses corpos amarrotados e por
trás dessas bocas mudas, benfeitores do plano espiritual articulam
providências, executam encargos nobilitantes, pronunciam orações ou estendem
braços amigos!
Ignorais, por agora, o valor de alguns
minutos de reconsideração para o viajor que aspira a examinar os caminhos
percorridos, antes do regresso ao aconchego do lar.
Se não vos sentis capacitados a
oferecer-lhes uma frase de consolação ou o socorro de uma prece, afastai-vos
e deixai-os em paz!... As lágrimas que derramam são pérolas de esperança com
que as luzes de outras auroras lhes rociam a face!... Esses gemidos que se
arrastam do peito aos lábios, semelhando soluços encarcerados no coração,
quase sempre traduzem cânticos de alegria, à frente da imortalidade que lhes
fulgura do além!...
Companheiros do mundo, que ainda trazeis a visão limitada aos arcabouços da carne, por amor aos vossos sentimentos mais caros, dai consolo e silêncio, simpatia e veneração aos que se abeiram do túmulo! Eles não são as múmias torturadas que os vossos olhos contemplam, destinadas à lousa que a poeira carcome... São filhos do Céu, preparando o retorno à Pátria, prestes a transpor o rio da Verdade, a cujas margens, um dia, também vós chegareis!...
André Luiz
livro "Sexo e Destino"
FEB