Homenagem às Mães
Revejo-a, embora os anos que se
dobraram,
risonha
e jovem, debruçada sobre a cama de
ternura
em que sua abnegação me embalava,
cantarolando
velhas baladas...
Ave
implume, não conhecera o calor da mulher
em
cujo seio eu me agasalhara, sedenta de
renovação,
ao recomeçar a experiência carnal.
Você,
no entanto, lá estava, no lugar dela, mãe
da
carne que não era a sua, a dar-se com os
olhos
fulgurantes quais estrelas no infinito de
sua
face recamada de amor.
Em
suas mãos cheias de calos do labor rude,
encontrei
as moedas de carinho e a festa da
vida
ao alcance dos meus passos.
Suas
lágrimas, suas dores, não me recordo delas.
Você
as escondeu, deixando para mim somente
o
festival do seu sorriso cândido e a sinfonia da
sua
voz veludosa.
Pela
sua boca fluíram as pérolas da primeira
oração
e as gemas dos sadios conselhos que
seguirão
sempre comigo.
Você
lutou e transferiu para mim os triunfos
que
não pôde ou não desejou fruir.
Tudo
você fez para que o anjo da felicidade
atapetasse
o meu caminho de bênçãos e a
musa
da paz doirasse o céu dos meus dias
com
as nuvens leves da serenidade.
Enquanto
eu estuava, vigorosa e confiante,
seu
corpo, antes robusto, definhava, seus
cabelos
esmaeciam... e um dia deslumbrei-me
com
a coroa de neve a lhe embelezar a
cabeça
altiva e estóica...
...Hoje,
mulher e mãe, eu agasalho junto
ao
seio o anjo corporificado no meu filhinho
e
colocando-o no leito de amor que lhe
preparei,
revejo o seu rosto, fitando-me,
sorrindo,
passado tanto tempo...
O
lar é, verdadeiramente, a madre da
humanidade.
E
o mundo colossal começa no coração
da
mulher que se converte em mãe.
A
alva denuncia o dia e a maternidade,
em
clarinadas de amor, entoa música da
Humanidade.
Como
esquecer o que você, humilde e
apagada
para o mundo, sofredora e
combatida
em mil circunstâncias, significa
para
mim?!...
Você
é o sorriso da minha esperança e o
lume
da minha noite, quando a dor me visita.
O
amor que dedico a Jesus, o Sol dos
nossos
dias e noites, recebi-o do seu amor.
E
em nome d'Ele, no dia Dia das Mães,
quando
todos levam as flores da gratidão
à
sua genitora, peço-lhe permissão para
dizer,
com a alma em prece e o coração
cantando:
-
Deus a guarde no Seu Reino, mamãe,
celeste
mensageira que me recebeu dos
braços
do abandono para me conduzir à
glória
da vida!
[Amélia Rodrigues][Divaldo P. Franco]