SABER PENSAR
 


  
    Somos conhecedores de muitas coisas, mas admitimos como verdade apenas aquilo que vivenciamos. Num primeiro plano, somos impressionáveis, vendo de longe, e ricos de muita imaginação; mas à medida que os fatos se aproximam, nossa visão se limpa e, muitas vezes, se frustra. Então, por opção, inúmeras vezes fugimos da realidade. Naquele primeiro momento, tínhamos nessa visão nossas tendências primárias, nosso conhecimento pretérito preso ao mundo das formas vividas que, muitas vezes, são diferentes da realidade, do novo que se apresenta.

    Estamos convidando-o a meditar sobre uma maneira diferente de ver a vida, de pensar a sua conduta, sem criar expectativas, mas permitindo que os fatos sejam analisados em prol do seu crescimento, para que assim possamos distinguir o que desejamos realmente e o porquê. Assim, nossas decisões serão mais conscientes.
Precisamos ver os fatos com uma visão imparcial, desprovida de preconceitos, aceitando o novo e aprendendo com ele, não aceitando o fato de imediato, vivenciando com respeito algo que até aqui era desconhecido. É preciso não se prender de forma tão fechada e rígida àquilo em que acreditamos. É preciso meditar e reflectir no novo com isenção, sem ideias preconcebidas. Querer ser proprietário da verdade ou ter uma forma particular de ver a vida, como sendo boa para si só, pode não expressar a verdade ou, pelo menos, o melhor. Devemos saber que o que era bom ontem pode não o ser mais hoje; as circunstâncias mudam, a vida muda, a legislação dos homens muda à medida que seus conceitos de justiça, de igualdade e de isonomia mudam. A lei de Deus é progressiva, permanecendo a imutabilidade de sua base, pois tudo foi criado sob princípios perfeitos e para um fim perfeito. À medida que nos desenvolvemos, vemos mais profundamente e é para isso que pedimos abertura, chamando-lhe a atenção para ver mais profundamente, em prol não só da maturidade individual, mas do bem geral.
Viver como até aqui se viveu é fácil, mas modificar hábitos arraigados é muito difícil e mais difícil ainda é vencer os vícios milenares, mas, tenhamos certeza, não é impossível. Somos marinheiros de primeira viagem no tocante à vida espiritual consciente e mais ainda para vivenciá-la estando ainda encarnados. Muitos nem sequer têm noção do processo reencarnatório e, mesmo assim, estão vivendo.

    O que pedimos aos que aceitaram despertar é que agora aceitem aprender com aquilo que é inevitável, com as leis imutáveis, com os fatos necessários ao progresso da humanidade, que aproveitem a oportunidade de estar numa situação em que o aprendizado é uma realidade, mas que tenham a grandeza de se predisporem para tal, deixando-se banhar na luz que todos os dias está disponível para todos.

    Espiritualize-se pela razão, conheça a vida conhecendo a si mesmo, aceite ver-se por dentro, ora na condução do seu pensamento, ora nas suas primeiras intenções, mas sempre de forma aberta e destemida. Não busque aprovação externa além da sua própria; viva de acordo com os bons princípios e não conforme acreditem que deva ser. Aceite viver uma nova realidade.

    Já falamos que o pensamento é o início de tudo, que a mente é o nascedouro das nossas ideias e que por ela devemos permitir o desvendar da nova realidade que já desponta no horizonte da nova era. Lutemos para que tenhamos olhos de ver os fatos por outros ângulos, para tirarmos a trave que os encobre, as ilusões que empanam nosso sentir e, desinibidos sentimentalmente, poderemos desbravar novos caminhos e buscar novas terras. O verdadeiro cristão tem o Mestre como guia e não tem medo, mas vive com prudência. Sabendo que seu guião será presença constante, não esmorece diante das provas e das dificuldades.

    Desbravar novos mundos é para fortes e ousados, mas desbravar mundos íntimos é para os convictos. Não precisamos de força física, mas de destemor, para nos vermos por inteiro, nos conhecermos nas intenções mesmo antes do pensamento concreto, nos observarmos nos sentimentos passados e actuais e nos desejos futuros, transformando as fraquezas de ontem em caminhos do hoje, as pedras do caminho que serviram de tropeço ontem sendo utilizadas como lições do agora. Desbravar novos mundos íntimos deve ser tarefa para gigante que aceita se olhar por cima de muitas justificativas e negativas, que acredita que o homem não é senão o que ele faz e, para ser um homem melhor, precisa se melhorar em todos os aspectos. O olhar íntimo precisa ser fraterno e amoroso, pois “os mártires, quando conheceram a palavra amor, ébrios desceram ao circo”2, não se incomodando com a morte, pois sabiam que ela não existia; não a desafiavam, apenas aceitavam as condições momentâneas, lutando com eles mesmos, mas sem perder de vista o ideal.

    Entreguemo-nos ao exercício de domar a maior de todas as feras – a fera da personalidade arraigada – e aceitemos a chance de mudar o que for preciso. Sejamos dóceis a nós próprios. Persistamos nos acertos que nem sempre são aceitos por outros acomodados no erro, sem nos preocuparmos com a opinião alheia, mas estejamos comprometidos a viver a verdade evangélica. Enfrentemos as feras interiores, sendo domadores das tendências duvidosas ou inferiores que ainda trazemos arraigadas a conceitos ultrapassados e depois de fortalecidos, enfrentemos as feras do mundo, que tentam deixar o trabalhador fora da seara para que tenha companhia nas trevas.

    Jamais sejamos tendenciosos no julgamento alheio, mas sejamos implacáveis no julgamento de nós próprios. Não pensemos que o futuro começa amanhã, mas agora. Não acreditemos em promessas vantajosas do materialismo, nem nos assustemos com a realidade; lutemos para transformá-la, sem esmorecer com a dificuldade. Observemos o lírio do campo, e façamos o mesmo.

    Vivamos, sim, a nova realidade, mas vivamos com intensidade, isentos de tudo o que nos aprisiona ao passado de engano. O novo está à nossa frente, mas para isso precisamos saber pensar. Pensemos na direcção da luz, quando estivermos rumo à descoberta de nós mesmos, sabendo o que procuramos temos o conhecimento, mesmo que parcial, da verdade libertadora, o que não consiste em retê-la simplesmente para nós mesmos. Como a luz, ela não ilumina com parcialidade; pouco a pouco, iremos buscá-la cada vez mais além.

    Tenhamos pensamentos coesos com o bem e com a luz e a seara nos aceitará como trabalhadores benditos e esperados por toda a eternidade. Somos companheiros de outrora que agora, por amor, se unem em prol de uma grande causa. Não nos assustemos com ameaças vãs e inexpressivas, com medos infundados. Saibamos que, para o trabalhador da seara, o salário é sempre justo.


Mensagem extraída do livro A FORÇA DO PENSAMENTO
Sissi Antunes / pelo Espírito Miramez

 

 

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