Filme do
diretor Ridley Scott, o mesmo de O Gladiador, é uma saga
“arrebatadora de coragem, paixão e aventura.”
Estreou no Brasil em 6 de maio de 2005.
Reporta-se ao
período das Primeiras Cruzadas, no século XII. É a
história de um ferreiro que, depois de ter perdido o
filho, a esposa e se tornar um assassino, num momento de
ira, une-se aos cruzados e se torna um Cavaleiro.
Descobre ser
filho de um nobre guerreiro inglês, Godfrey of Ibelin,
que o abandonara em criança e o segue, tornando sua a
honra de proteger o rei e o povo.
Descobre o
honrado Cavaleiro que muitos dos que se afirmam
cristãos, os Templários (monges-cavaleiros), os
Cruzados, distantes se encontram da dignidade e da
honra.
O filme, em seu
original, Kingdom of Heaven, sacrifica
um tanto a História, mas mostra um homem para quem
servir ao povo é mais importante do que salvar a própria
vida, para quem lutar não é um desporto, mas uma
necessidade.
Reporta-se o
filme a alguns momentos históricos, naturalmente que
acrescidos do romance e do glamour próprios à
cinematografia.
Apaixonante o
enredo que mostra Renaud de Châtillon, príncipe de
Antioquia que, no seu afã de guerrear, de destruir o que
considera o inimigo, põe fim à trégua assinada em 1180,
investindo contra Medina.
A expedição é
aniquilada por Saladino, o sultão do Egito e da
Mesopotâmia, que se torna o grande vingador do Islã.
Nova trégua é assinada em 1185 e Renaud, dois anos após,
ataca uma caravana que se dirigia para Meca. É o fim
incondicional da trégua. Guy de Lusignan, rei de
Jerusalém, é feito prisioneiro e o ápice do filme é o
cerco e a tomada de Jerusalém, pelos muçulmanos, de 20
de setembro a 2 de outubro de 1187.
Ao longo do
filme, ressaltam vários aspectos da honradez de quem,
mesmo em meio à violência e à corrupção reinantes, se
mantém firme no ideal de Cavaleiro: defender o rei,
defender os mais fracos.
Quando Balian,
o jovem francês, é instado a lutar, no deserto, para
defender seu cavalo, demonstra a sua compaixão, não
eliminando o segundo oponente, por reconhecer
desnecessário. Ao contrário, faz com ele um acordo para
que o leve até à cidade. E quando, o muçulmano
agradecido lhe diz que será seu escravo, ouve de Balian
que ele fora escravo, sabia quanto era desagradável
sê-lo e, assim, jamais desejaria isso a outro homem.
Faz mais,
dá-lhe de presente seu próprio cavalo, em gratidão.
Esse gesto,
mais tarde, em sua primeira batalha contra Saladino, lhe
valeria a vida, porque aquele a quem poupara, era o
braço direito do curdo.
Em vários
momentos, a imortalidade é trazida à baila, contudo,
essencialmente presente no momento que o amigo parte, na
que seria a mal sucedida campanha de Renaud de Châtillon
e se despede de Balian, com a certeza de que se dirigia
ao encontro da morte:
“Vou contar
a seu pai como eu vi você se portar.”
Uma frase
forte, portadora de toda fé na vida além da vida.
Balian é um
idealista e um visionário. Recebendo uma parte de terras
áridas para guardar, ele incentiva o povo a buscar água,
cavando sem cansaço. E transforma a aridez do deserto em
um oásis, melhorando a vida de todos.
Fez do inferno
um paraíso.
Os conceitos do
sacerdócio são colocados em xeque. Quando ocorre o cerco
de Jerusalém, Balian assume a liderança para a defesa do
povo.
Ele está
disposto a lutar não pelos lugares santos de Jerusalém,
pelos lugares de veneração. Jerusalém é o povo e é por
ele que lutará.
Enquanto o
líder sacerdotal propõe que se fuja, enquanto é
possível, deixando para trás todo o rebanho de almas,
enquanto ele mostra o seu preconceito e rejeição ao povo
simples, dizendo que o fato de os fazer Cavaleiros não
os transformaria em criaturas melhores, em melhores
combatentes, Balian mantém sua posição e, numa única
frase, dá o tom irônico de como aquilo tudo apresentado
pelo sacerdote não era religião:
Padre, nos
últimos dias, aprendi muito com o senhor a respeito de
religião.
Ao precisar
cremar os corpos e receber do sacerdote a informação de
que, se assim fizer, estará impedindo que todas aquelas
criaturas possam ressuscitar, no Juízo Final, porque não
terão corpos para tal, Balian redargue:
Deus vai
entender, padre. Estamos preservando as outras vidas da
peste que advirá. Se Deus não entender isso, então Ele
não é Deus e não precisamos Dele.
Fé raciocinada,
pensada e sofrida.
A mesma fé
raciocinada que o levou a rebelar-se contra a Igreja ao
lhe afirmar que sua esposa, que se matara no auge da dor
da perda do filho, estava no Inferno, com a cabeça
decepada, porque assim fora enterrada, o leva a, em meio
a suas preces, indagar:
Como pode
estar no Inferno, se está no meu coração?
Ele utiliza a
astúcia, a estratégia, lutando até o final.
A História
conta que Saladino teria mandado o seguinte recado:
Eu quero
conquistar Jerusalém como os cristãos o fizeram há
noventa anos; massacrarei todos os homens e escravizarei
todas as mulheres. Amanhã conquistaremos a cidade.
Ao que os
cristãos responderam:
Se temos de
renunciar a toda a esperança de negociações,
bater-nos-emos desesperadamente até ao último homem,
poremos fogo ás casas e destruiremos os santuários. Os
cinco mil prisioneiros muçulmanos que temos em nosso
poder serão todos massacrados. Preferimos destruir todos
os nossos bens a deixá-los para vocês e mataremos os
nossos filhos. Ninguém ficará vivo e perdereis todos os
frutos da vossa vitória.
Essa resposta
obrigou Saladino a reflectir e a reunir um conselho de
guerra com seus homens. Aconselharam-no a aceitar a
capitulação de Jerusalém mediante um determinado resgate
por habitante. Com essas condições, a cidade se rendeu.
Essa parte da
rendição é mostrada no filme e os cristãos foram
autorizados a abandonar a cidade.
A História
registra que muitos cristãos pobres não podiam pagar o
resgate mas, mesmo assim, foram postos em liberdade.
Saladino mandou-lhes mesmo distribuir esmolas. Esse
carácter cavalheiresco causava a admiração dos seus
amigos e inimigos.
Balian fica com
a sua rainha que opta por seguir a pé, com todos e o
final é romântico.
Enquanto o
casal parte para caminhos de uma nova vida, Ricardo
Coração de Leão, vindo de Vezelay, de onde partira a 4
de Julho de 1.190, chega a Palestina.
Maria
Helena Marcon
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