"O Náufrago pretende passar a ideia de
que não importa quantos obstáculos são lançados em nosso
caminho, sempre encontraremos maneiras de aceitá-los. A trama
do filme não é tanto sobre a sobrevivência do ser humano e sim
do espírito humano e é uma ilustração da ideia que sobreviver
é fácil, viver é que é difícil". Robert Zemeckis, director.
Você é alguém que vive normalmente,
como qualquer outra pessoa. Com planos, carreira, amigos,
amores. Um futuro repleto de sonhos realizados. Mas você é
também alguém que por um "acaso" muito irónico, perde tudo
isso de um dia para o outro, literalmente. Seu avião cai e
você é o único sobrevivente, indo parar em uma ilha deserta,
tendo como única companhia você mesmo.
Você é agora um náufrago. Ou melhor, no
caso, "você" aqui é Chuck Noland personagem vivido por Tom
Hanks, em um filme surpreendente e muitas vezes profundo.
O filme surpreende nas possibilidades
de reflexão que coloca. Podemos aqui imaginar os sentimentos
de alguém que se vê sem saídas, preso às contingências
colocadas pela natureza, tendo que lutar pela sua
sobrevivência - tal como nossos ancestrais primitivos já o
fizeram.
Mas se no início do filme, Chuck Noland
é "apenas" um sobrevivente - lutando pra se manter respirando
em um esforço quase sobre-humano, entremeado por ataques de
desespero e revolta - depois dos quatro anos que passa na
ilha, ele parece ter descoberto uma vida ou a própria vida no
que ela tem de mais concreto e real: os momentos, os minutos,
os dias - e nada mais do que isso.
Essa incrível capacidade de viver
completamente sozinho, por mais que saibamos o quanto é
difícil a vida em relação e o ficar só pareça as vezes mais
fácil, podemos imaginar que alguém que viva deste modo por
tanto tempo só pode ter encontrado dentro de si algo incomum
para aqueles que não param para se conhecer.
Podemos ir mais longe e imaginar alguém
que desenvolveu uma relação consigo mesmo que permitiu que
cada dia passasse em plenitude, com a única coisa que se tem
de mais real e permanente: o próprio íntimo ou a si mesmo.
Esse filme nos faz reflectir sobre a
necessidade que temos de encontrar dentro de nós todos os
motivos para nos mantermos vivos e plenos. Encontrar dentro de
nós toda a força necessária que podemos contar para superarmos
os momentos difíceis. Claro que aqui encontramos uma situação
extrema, mas podemos fazer uma analogia com todas as situações
que consideramos trágicas em nossas vidas e pensarmos sobre o
que realmente estamos perdendo. Será que estamos perdendo algo
realmente? Ou será que não temos a nós mesmos, sempre e o
tempo todo, uma companhia que podemos contar e amar
eternamente, sem medos?
E mais, com esse filme podemos entender
de que modo as dificuldades da vida nos ensinam a nos
encontrar cada vez mais, ou seja, são as dificuldades que nos
mostram nossa força íntima, nossa coragem escondida, nossa
inteligência superior e nossa disciplina desconhecida. São
estes os momentos que permitem que desenvolvamos todos aqueles
"poderes" que nos permitirão um dia dizer com Jesus que "nós
somos deuses"...
Podemos finalizar esta análise com uma
fala do próprio personagem, já de volta à "vida normal", onde
ele afirma que, em um momento de desespero, pensou em desistir
de sua própria vida. Mas neste mesmo momento sentiu-se
envolvido por uma sensação reconfortante que lhe dizia que de
alguma forma ele tinha que se manter vivo. Tinha que continuar
respirando, mesmo sem motivos lógicos para ter qualquer tipo
de esperança.
E foi o que ele fez, continuou vivo e
respirando. Foi quando aquela lógica se mostrou errada quando
a maré lhe trouxe aquilo que seria o instrumento para sua
salvação. Ele agora tinha uma vela para fazer com que a
jangada que pretendia construir superasse as ondas mais altas
- e ele saiu dali.
Mas quando voltou, mesmo percebendo que
não possuía mais as coisas - os sonhos e os amores - que havia
deixado pra trás, mesmo triste ele já sabia o que fazer: "Eu
tenho que continuar respirando, porque amanhã o sol nascerá. E
quem sabe o que a maré poderá trazer?"
Assista o filme e pense nisso...
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