Razão e Necessidade
Muita gente procurava o Chico em seu emprego e isto começou a causar-lhe problemas. Certa vez, uma senhora em adiantado estado de perturbação foi procurá-lo. O chefe não queria que ele atendesse ninguém em seu ambiente de trabalho e foi dito a senhora que o Chico estava em casa. Para lá se dirigiu ela, sendo informada de que o Chico estava trabalhando. Voltou novamente ao emprego e disseram que o nosso amigo saíra a serviço. Ela resmungou qualquer palavrão e se foi. À noite, quando as portas do Centro se abriram, ela avançou sobre ele e deu-lhe inúmeros bofetões no rosto. Quando acabou de desabafar através da agressão, falou com voz nervosa e tremula: Está pensando que tenho tempo para andar atrás de você para cima e para baixo? E, agora, já para aquela sala que você vai me dar um passe... cachorro... A senhora sentou-se numa cadeira e ficou esperando. Chico começou a pensar: "Senhor Jesus, para se transmitir um passe precisamos estar calmos, com o coração voltado para o amor do próximo. O Senhor sabe todas as coisas e sabe que não estou com raiva dela, mas ela me deixou num estado meio diferente. Ajude-me Senhor".
Então, o espírito de Emmanuel lhe aparece e diz:
- Para ajuda-la é preciso alcançar-lhe o coração. Converse com ela.
E o Chico, para a irmã em sofrimento:
- Minha irmã, a senhora me perdoe ser uma pessoa tão ocupada. Não pude atendê-la em meu emprego porque meu chefe não permite. A senhora compreende... estou ali para servir a empresa, que me paga. Não posso perder aquele serviço porque tenho muitos irmãos para ajudar.
Foi conversando... conversando, e a mulher se acalmando, para em seguida começar a chorar. O Chico, então transmitiu-lhe o passe e ela foi devolvida a razão.
Depois de sua saída, o médium perguntou ao espírito de Emmanuel:
- Emmanuel, eu não estou com a razão?
A resposta foi esta jóia de caridade cristã:
- Você está com a razão, mas ela esta com a necessidade.
No outro dia, quando o Chico chegou ao serviço, estava com o rosto todo inchado. Seu chefe indagou o que ocorrera.
- Bati na porta. Ele então olhou-o por sobre os óculos e perguntou novamente:
- Mas... dos dois lados?
Extraído do livro "Chico, de Francisco"
- Adelino da Silveira
Editora Cultura Espírita União