À Espera do Amado

          Disse-me baixinho: 
          — Meu amor, olha-me nos olhos. 
          Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe: 
          — Vai-te embora. 
          Mas ele não foi. 
          Chegou ao pé de mim e agarrou-me as mãos... 
          Eu disse-lhe: 
          — Deixa-me. 
          Mas ele não deixou. 

          Encostou a cara ao meu ouvido. 
          Afastei-me um pouco, 
          fiquei a olhá-lo e disse-lhe: 
          — Não tens vergonha? Nem se moveu. 
          Os seus lábios roçaram a minha face. 
          Estremeci e disse-lhe: 
          — Como te atreves? 
          Mas ele não se envergonhou. 

          Prendeu-me uma flor no cabelo. 
          Eu disse-lhe: 
          — É inútil. 
          Mas ele não fez caso. 
          Tirou-me a grinalda do pescoço 
          e abalou. 
          Continuo a chorar, 
          e pergunto ao meu coração: 
          Porque é que ele não volta? 

          Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" 


 

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